O diretor de Recursos Humanos da Central de Concursos, José Luís Baubeta, afirma que o melhor momento para se procurar um emprego é, preferencialmente, como contratado, condição em que a negociação é mais favorável.
A recomendação é evitar a precipitação para não cair em armadilhas, como transferir-se para uma empresa em que não vislumbre ascensão ou que tenha um ambiente ruim.
"Nunca se deve pedir demissão com a cabeça quente, e sem antes ter encontrado uma nova colocação, pois há o risco de acabar desempregado e aí a situação fica pior. O importante é ponderar, colocar no papel os prós e os contras da empresa em que se está e a que está para contratá-lo."
Baubeta também aconselha a não se preocupar apenas com salário. Para o especialista, a qualidade de vida deve ser valorizada. O futuro não é promissor para quem não gosta do que faz ou trabalha em um ambiente hostil.
"O profissional precisa ter definido o que ele espera da nova empresa. Ela oferece recursos tecnológicos para que a função seja desenvolvida com eficácia, é uma empresa que estimula a aprendizagem, tem um plano de carreiras definido, o relacionamento entre os funcionários é adequado, enfim, deve-se analisar para ter certeza de que não se está apenas trocando de problema", aconselha.
RELAÇÃO - Quem está decidido a sair tem uma dúvida: como agir dentro da empresa em que se está empregado? A gerente da Divisão de Efetivos da Gelre, Sidnéia Palhares, recomenda franqueza, se há abertura para o diálogo, e avisar chefe sobre o interesse de partir para um novo desafio.
"É muito complicado simplesmente chegar, avisar que encontrou outro emprego e deixar todo mundo na mão. Agir com transparência é importante para que o profissional deixe sempre uma porta aberta. Não que isso garanta uma recontratação futura, mas o empregador antigo torna-se uma boa referência."
Se a empresa não dá abertura para um diálogo franco, deve-se tomar alguns cuidados, como procurar emprego em horários não-conflitantes com o serviço e evitar desculpas como a de que foi ao médico ou ao dentista. "Ao encontrar um novo emprego, estabeleça um prazo para começar a trabalhar, pois assim dá para passar informações para quem ficará no lugar", diz Sidnéia.
Buscar novos desafios não é antiético
Para o diretor de Recursos Humanos da Central de Concursos, José Luís Baubeta, procurar novos caminhos e desafios não é um comportamento antiético.
"Pelo contrário. Antiético é ser demitido depois de ter feito bem sua parte, matado um leão por dia para os outros e depois ser descartado. Essa idéia de que buscar melhorar de vida é uma atitude meio covarde faz com que muita gente perca boas oportunidades de crescimento profissional", diz.
A gerente da Divisão de Efetivos da Gelre, Sidnéia Palhares, concorda com Baubeta. "Antiético é ficar em um lugar em que não se está satisfeito, nem vai ao encontro de seus princípios e no qual não dá para crescer profissionalmente", afirma.
Sidnéia lembra que um profissional não pode estagnar ou regredir. Ele deve sempre buscar reconhecimento, independentemente da área que atua.
Ambos os especialistas deixam claro que pedir demissão para tentar melhorar a própria situação faz parte da rotina do mercado. O importante é que as decisões sejam tomadas de forma racional para não prejudicar nenhuma das partes envolvidas.
Segundo Baubeta, outras duas razões que impedem a maioria dos profissionais de buscar uma nova colocação é a acomodação e o medo do desconhecido e de enfrentar uma nova situação, pois há o risco de não dar certo. O conselho que ele dá para superar esse receio é nunca subestimar-se, nem deixar de acreditar em si próprio.
"Quando você tenta algo planejado, focado, pode haver um resultado positivo. Se não tentar fica impossível e não dá nada certo".
E nada de soberba. Ninguém deve agir como se fosse imune à demissão. Nem acomodar-se. Quem tem medo de arriscar pode ser demitido e engordar as estatísticas de desemprego.
Administradora surpreendida por demissão não se arrepende
Se a administradora de empresas Carla Regina de Lima, 30 anos, residente em São Paulo, tivesse negociado corretamente não teria pedido demissão da empresa em que trabalhava como coordenadora de vendas havia 12 anos, para ingressar em outra que a manteve empregada por apenas dois meses. Mas, hoje, novamente empregada, ela garante não se arrepender.
Carla não buscava dinheiro e sim mais conhecimento e satisfação profissional. Ela trabalha no setor imobiliário e foi convidada por uma companhia cliente da empresa em que estava. Mas a administradora não aproveitou a vantagem que tinha para negociar um contrato mais vantajoso.
"Eu podia ter exigido um contrato de trabalho que me desse mais respaldo, mais segurança. Se você tem 12 anos de empresa e quer sair, dificilmente vai conseguir que lhe paguem os direitos trabalhistas. Pedi a conta e parti para o novo desafio sem a certeza de que teria tempo suficiente para a natural adaptação", conta.
Carla ficou apenas uma semana desempregada porque é conhecida no mercado. Mesmo assim, o terceiro emprego não a satisfez e ela pediu demissão. Ficou chateada porque havia trocado o certo pelo duvidoso e se deu mal. Há duas semanas ela foi contratada por outra companhia e agora diz que está satisfeita com o trabalho.
"Refleti bastante sobre o que fiz. Mas eram 12 anos na mesma rotina e o ser humano precisa arriscar de vez em quando. Você pode mudar de empresa para fazer a mesma coisa, mas a filosofia de trabalho, o jeito que será feito é diferente, e isso é um conhecimento para você."
Marcelo de Paula
Do Diário do Grande ABC
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